domingo, 22 de junho de 2014

Isolar a mulher – da série Rotinas do Parto NORMAL: o que eles fazem com você que mais atrapalha do que ajuda


É de praxe: a parturiente chega no hospital e mandam o papai pra recepção preencher papéis enquanto ela fica sozinha, sendo submetida às demais etapas do protocolo padrão de internação. É um momento delicado, a mulher sente dor, se sente vulnerável, está em um hospital, que por si só é um ambiente hostil à maior parte das pessoas, com gente que nunca viu, recebe comandos: tire a roupa, tome banho, coloque essa camisola, deite-se aqui.
 Sozinha, sem ter uma mão para segurar ou para afagar seus cabelos, sem ter que possa proporcionar a sensação de segurança tão necessária para que o trabalho de parto transcorra naturalmente, sem ter alguém que possa fazer valer suas vontades mais simples. É o ciclo medo-tensão-dor. Sozinha, sente medo. Com medo, fica tensa. Tensa, a contração dói mais. Sim, pro trabalho de parto fluir você precisa relaxar.





E a explicação vai além. Existe todo um equilíbrio hormonal que precisa estar sintonizado para o parto evoluir . O que faz a mulher dilatar é a pressão da cabeça do bebê contra o colo uterino e a tração muscular, ambas provocadas pela contração do útero. Quem faz o útero contrair é a ocitocina, também conhecida como hormônio do amor. A adrenalina é um hormônio que produzimos quando temos medo e esse hormônio é antagonista da ocitocina ou seja: os dois não trabalham juntos. Então em um ambiente onde haja adrenalina, a ocitocina não cumpre seu papel, as contrações acabam não sendo eficientes (muitas vezes até cessam, foi o que aconteceu comigo por ter mudado de ambiente na hora do expulsivo no primeiro parto. A adrenalina de estar em uma nova sala, de ter saído do estado de concentração em que estava, ter sido puxada de volta da partolândia para o mundo consciente, tudo isso bloqueou minhas contraões e elas sumiram. Quando eu estava lá, todo mundo olhando, esperando pro bebê nascer, as contraçoes não vinham. Foi necessário um tempo de adaptação com o novo ambiente para que voltasse a fluir).

MAIS medo = MAIS tensão = MAIS dor = MAIS adrenalina = MENOS ocitocina = MAIOR duração do trabalho de parto

Aí a moça internada, sozinha, com dor e medo não dilata e o que eles fazem? Colocam o tal do sorinho… E uma companhia de qualidade talvez fosse muito mais eficiente, como de fato é. Por isso a OMS recomenda que a mulher tenha um acompanhante durante TODO o processo de prá-parto, parto e pós-parto. E o Ministério da saúde estabelece que a mulher tem o direito, garantido por lei, de se fazer acompanhar por pessoa de SUA ESCOLHA, independente de sexo ou grau de parentesco. O objetivo é que ela se sinta mais segura. E as evidências demonstram que uma atitude simples como essa reduz a necessidade de intervenções, abrevia a duração do trabalho de parto e aumenta o grau de satisfação materna e promove o vínculo precoce, quando o acompanhante é o pai, além de outros benefícios



E a lei é válida pra TODOS os hospitais, sejam particulares ou do SUS. Essa lei vai fazer OITO anos. Os hospitais tinham prazo pra se adequarem e até hoje, continuam usando a desculpa de que não têm estrutura para receber o acompanhante. E todos os dias, milhares de mulheres tem seu direito violado ao serem impedidas de parir acompanhadas.
Quer saber mais? Então dá uma espiada aqui ó. E se você foi impedida de ter seu acompanhante, DENUNCIE! Faça valer o seu direito.

Obs: imagens da web – clique sobre elas para ser redirecionado para o site de origem. A imagem é sua? solicite exclusão que apago imediatamente! Smiley piscando



sexta-feira, 6 de junho de 2014

ENEMA: Da série Rotinas do Parto Normal – o que eles fazem por você que mais atrapalha do que ajuda

Enema – constrangimento desnecessário  




Enema ou enteroclisma são procedimentos utilizados para promover o esvaziamento dos intestinos. A diferença de um para outro é a quantidade de fluido inserido na porção distal do intestino através do reto. É também conhecido como lavagem intestinal. É procedimento de rotina na maioria dos hospitais e maternidades no momento de internação da parturiente, mais uma etapa do “ritual de purificação”. Qual o suposto objetivo? Evitar a contaminação fecal na hora do parto e acelerar o andamento do trabalho de parto. E qual o verdadeiro resultado? Dor, desconforto e humilhação.

Dá pra imaginar a situação da mulher, com contrações, novamente submetida a outro procedimento humilhante que vai lhe causar uma baita cólica intestinal com uma maravilhosa diarréia? Perfeito, não? Calma! ainda pode ser pior e você passar boa parte do trabalho de parto gotejando matéria fecal líquida. Inúmeros estudos demonstraram que não houve redução no tempo de trabalho de parto e nem na contaminação fecal e nem na incidênca de infecção pós parto na episiotomia.
 
Opa! Mas episiotomia é aquele famoso corte no períneo que teve sua aplicação como procedimento de rotina questionada e derrubada há quase trinta anos atrás. Voltamos ao que eu argumentei no post anterior: se a episio deve ser feita em raríssimos casos, não há justificativa para realizar enema em todas as parturientes que chegam mesmo que tal procedimento prevenisse infecção no pós parto. E se o medo é de a mulher defecar durante o expulsivo, sejamos objetivas: muito mais fácil recolher uma pequena quantidade de fezes em consistência normal do que limpar um jato de diarréia que se espalha por tudo e contamina uma área muito maior. Até na banheira, por exemplo, se ocorrer a eliminação de fezes, recolhe-se com uma peneirinha rapidamente e pronto! Problema resolvido! Mas e se for líquida? Fazer o quê com toda aquela água? Ou seja, é muito mais fácil contaminar tudo se você tiver sofrido enema. 

“Ai, mas que vergonha, fazer cocô na frente de uma platéia, com um holofote virado pra mim!” Vamos desmistificar um pouco o assunto. Se você mantiver uma alimentação equlibrada, com bastante fibras, garantindo uma evacuação normal nos últimos dias que precedem o parto, é muito provável que seu corpo realize uma limpeza natural e no início do trabalho de parto você vá sucessivas vezes ao banheiro, eliminando o conteúdo de seus intestinos. Caso permaneça algum material na ampola retal, o que ocorre é que, quando a cabeça do bebê descer pelo canal de parto, o tecido que separa o canal vaginal do canal retal vai ser empurrado pará trás e vai bloquear seu reto (visualizou?). Então, o que estiver acima disso, não desce mais. Mas se tiver algo na porção final do reto, provavelmente vai ser empurrado para fora com o movimento da cabeça do bebê e sim, vai sair, ANTES do bebê, em estado sólido, em pequena quantidade e quem te assiste vai ter a delicadeza de tirar dali o material sem que você talvez nem perceba que o fez e sem nem fazer nenhuma brincadeirinha ou comentário infeliz. Agora, se você passou pelo enema, o bloqueio da cabeça do bebê talvez não seja suficiente pra conter a enxurrada que pode ter restado no seu intestino e aí…

E se você está lendo isso, provavelmente é por que está interessada em um parto menos “normal” que o padrão hospitalar de hoje, de forma que eu acredito que não vá haver um holofote virado pra você e sim uma tênue luz preenchedo a sala. E se você sofre com prisões de ventre horríveis, se na ocasião do parto estiver há dias sem evacuar e isto estiver te gerando desconforto, se tem fezes assim tão ressequidas e tanta dificuldade pra evacuar e se seu corpo não eliminar sozinho o conteúdo intestinal nas horas que precedem o parto, bem, pode ser que se beneficie com um enema. O mais importante é a avaliação INDIVIDUAL de cada caso e a sua LIBERDADE de escolha e não simplesmente se subeter a um procedimento por que o doutor mandou ou por que é regra do hospital. Mas eu acho que se beneficiaria muito mais resolvendo a prisão de ventre antes da hora P.

Enema: mais um procedimento que a OMS considera prejudicial ou não efetivo e que deve ser exlcluído dos protocolos de rotinas hospitalares.


Para saber mais: