Uma vez em uma palestra, um médico falou: ” Eu não sei por que
hoje chamam de parto humanizado, parto sempre foi humanizado”.. e eu
pensei: “Aham, tá bom, fala isso para as milhares de mulheres no mundo
que tiveram partos tão traumatizantes que decidiram nunca mais passar por essa
experiência, ou nem mesmo engravidar“.
O parto normal, o comum, é aquele em que a mulher fica muitas vezes sem
acompanhante do lado, que não tem escolha, fica a mercê de tudo e todos. Quando
mandam deitar ela tem que deitar, ela não pode comer, ela não tem voz, ela é
apenas mais uma no sistema.
Assim ela fica deitada numa cama durante todo o tp, sem ajuda de
ninguém, no máximo mandam caminhar pra acelerar, mas não tem ninguém para fazer
uma massagem, ensinar ao acompanhante, explicar posições, incentivar, etc.
A mulher se sente sozinha e indefesa no momento mais importante de sua
vida. E quando chega a hora do nascimento, ela é deitada na maca, as pernas
apoiadas pelas enfermeiras ou um ferro gelado, e deve fazer força quando
mandarem fazer. Assim ela ignora totalmente os sinais que o corpo está dando,
pois ninguém deixa que ela ouça, muitas vezes ainda tem uma pessoa empurrando a
sua barriga pra baixo, pra ”ajudar” o bebê a nascer enquanto o médico puxa e
puxa.
A equipe falando, e até mesmo gritando, ” faz força mãezinha” ”anda anda
que esse guri tem que nascer” ” na hora de fazer foi bom agora não grita”.
Para completar tudo isso, o médico ainda faz a bela episiotomia, cortando
algo que foi feito para abrir naturalmente e lacerar se necessário. Depois que
o bebê nasce, o médico segura de um jeito qualquer, corta o cordão, aspira o
bebê e a mãe fica ali, ansiosa esperando conhecer o ser que carregou 9 meses.
É assim que se destrói o corpo e a mente de uma mulher, traumatizando-a
em um momento que deveria ser empoderador e inesquecível.
O parto humanizado não é uma modinha, não é frescura, e não é nenhuma
novidade. O que mudou é que hoje as pessoas estão conhecendo cada vez mais, as
mulheres estão aprendendo que elas são as protagonistas de seus partos, e que
elas mandam, e que ninguém pode ensinar a natureza de como agir, ela é que nos
ensina.
Essa humanização já começa no pré-natal onde ela tem um obstetra que não
se preocupa com o tempo da consulta, ele quer saber como a mãe se sente e esse
bem estar vai além do bem estar físico. O incentivo ao parto natural começa
assim, as verdades e não mitos, as verdades sobre os riscos da cesárea eletiva
no presente e no futuro.
No trabalho de parto ela é acompanhada sempre pelo acompanhamente e
muitas vezes pela Doula, trazendo segurança, apoio, conhecimento. Em casa ela
relaxa e descansa até que as contrações fiquem próximas e intensas, no hospital
ela encontra o seu médico ou muitas vezes plantonistas atenciosos, que dizem: ”
Você esta indo muito bem”, ao invés de mandar e fazer terrorismo.
Ela é livre para caminhar, agachar, usar chuveiro, banheira, bola,
namorar com o companheiro, rir, ouvir música, apagar as luzes, dançar, receber
massagem e deixar que o trabalho de parto continue naturalmente.
Quando chega a
hora do nascimento, ela escolhe qual posição é mais confortável, sempre sendo
incentivada a um parto vertical, ela fica de cócoras, de quarto, na água, ou se
ela quiser ela pode parir deitada, mas na posição que ela gostar.
Sem episiotomia, sem gritos, apenas palavras de carinho e incentivo,
deixando que ela faça força somente quando sente vontade, sentindo com a
própria mão a cabeça do bebê, com um espelho ela vê o filho nascendo, e para os
seus braços o filho vai antes ,de qualquer outra coisa.
Um parto humanizado é um parto onde mãe e bebê são respeitados, cada um
no seu tempo, na sua maneira, como o corpo deseja. É um parto que toda vez que
a mãe relembrar, ela vai sorrir, e vai chorar de emoção, sentindo a força que
ela tem e que não conhecia.
Esse é o parto chamado humanizado, eu ainda prefiro o termo parto
natural. É o tipo de parto que eu nunca canso de assistir e acompanhar, o tipo
de parto que transforma a mãe e todas as pessoas ao redor, o sentimento de amor
na sala é palpável, é incrível! Ahh, um parto desses eu quero!
E a cesárea?
Até mesmo a cesárea pode e deve ter uma assistência humanizada, com
alguém ao lado da mãe dando carinho, conversando, sem amarrar seus braços, ela
não vai fugir ! Quando for a hora de retirar o bebê pode-se abaixar o
campo para que ela veja seu filho, e logo após os cuidados, colocar o bebê
direto no peito da mãe, incentivando ali mesmo a primeira mamada, o primeiro
contato, o primeiro colo.
Gestantes, não aceite ser apenas mais uma, lute a favor do seu parto e
lembre que esse momento é do seu bebê também, querer o melhor para ele não é
frescura. Tenha um obstetra a favor do parto natural, tenha uma doula, esse
momento é único, não abra mão!
Parto com respeito, um direito para todas as mulheres, de maternidade
particulares e do Sus!
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