O
Pós-parto é realmente um período muito delicado, em que estamos em grande
adaptação ao bebê, a nós mesmas e a nova vida que se iniciou. Dificuldades são
normais, e até mesmo uma certa apreensão ou momentos de tristeza e preocupação,
pois são consequência também de reações hormonais após o parto. A mãe fica
muito voltada para o bebê e isso é fisiológico, garantindo a sobrevivência de
um ser totalmente dependente.
Esse
texto de Ana Maria Morateli da Silva Rico - Psicóloga Clínica é muito
interessante. Vale a pena ler e ver que tudo isso é normal, e que com calma e
tempo tudo vai melhorando e se ajeitando na nossa vida.
O parto constitui-se num processo de
transição que coloca um ponto final no estado da gravidez e dá início ao
puerpério ou pós-parto.
Esta nova fase abrange um período de
cerca de quarenta dias e se apresenta com características altamente relevantes
para as pessoas envolvidas e, em especial, para a puérpera.
Durante os longos meses de gestação, a
mulher foi se adaptando às transformações internas e externas que ocorriam
lenta e gradualmente. Todos à sua volta eram-lhe solícitos aos seus desejos e
cuidados. Ela era o centro das atenções.
Com o nascimento do bebê, nasce uma
família. As mudanças são bruscas e tudo muda em sua vida. Ocorre, então, uma
mistura profunda de sentimentos: alívio e euforia por já ter passado pela
experiência do parto e por ter sido constatado que o bebê nasceu perfeito e
saudável, o que aumenta sua autoconfiança por ter sido capaz de procriar bem.
Quando o bebê é apresentado aos pais,
todas as atenções se voltam para ele. Muitas vezes surgem sentimentos de
frustração com o filho, por ser diferente do idealizado seja pelo sexo ou mesmo
pela aparência f'ísica. Ao olharem para aquele ser tão pequeno e indefeso,
totalmente dependente e ainda desconhecido, é que os pais sentem o profundo
impacto do compromisso assumido para toda a vida, o que os torna fragilizados e
assustados.
A
primeira angústia que surge na puérpera é quanto ao aleitamento,
questionando-se se terá leite suficiente ou mesmo se o bebê aceitará a
amamentação. Tais perguntas escondem a real
preocupação que é a possibilidade de falhar como mãe, pois a maternidade é,
agora, um fato consumado. Dessa maneira a permanência no hospital é sentida
como apaziguadora, no sentido que proporciona à puérpera e seu filho toda a
assistência e cuidados de que necessitam.
Mas chega o dia da alta hospitalar e,
com ela, o retorno ao lar. O medo de assumir sozinha as responsabilidades para
com o bebê aumenta a insegurança materna. Além disso, as atenções especiais, as
comemorações e visitas começam a diminuir, enquanto que as obrigações assumem
proporções imensas. Novamente se intensificam as angústias quanto à
maternidade. O medo de não corresponder à figura de mãe idealizada une-se ao
temor de não saber cuidar do bebê gerando a possibilidade de que adoeça e
morra.
Os primeiros dez dias do pós-parto são
os piores. Com os seios inchados e doloridos e ainda sentindo dores se o parto
foi cesárea ou mesmo normal, por causa da episiotomia (corte de cerca de quatro
centímetros feito no períneo, antes do bebê nascer, para proteger os tecidos
contra roturas e lacerações), o próprio estresse físico e emocional do trabalho
do parto, a perda do ninho protetor que era o hospital, o não reconhecimento do
próprio corpo, os deveres que a esperam, sem saber se dará conta, sua vida
pessoal e profissional, tudo isso contribui para o aparecimento do baby blues
ou depressão pós-parto. Neste momento, torna-se fundamentalmente necessário o
apoio familiar e de amigos, que auxiliem e estimulem a puérpera a exercer suas
atividades maternas, revezando-as com ela, para que também possa descansar.
O confronto com o corpo atual é um
aspecto difícil a ser superado, pois já havia se acostumado com a imagem do
corpo grávido. Embora vazio, não o reconhece como sendo o mesmo anterior à gravidez
e em nenhum outro momento de sua vida. A abstinência sexual vem fortalecer o
sentido de fealdade na mulher, de perda da sensualidade e do poder de sedução e
que a leva, muitas vezes, a suspeitar da fidelidade do companheiro.
Outra grande angústia materna é o
compartilhar do bebê com outras pessoas, inclusive com o próprio pai da
criança, pois enquanto grávida tinha exclusividade na relação com ele, que era
sentido como apenas seu. A perda da figura do obstetra é muito significativa.
Sob seus cuidados durante toda a gestação, acolheu-a e acalmou-a nas horas
difíceis, numa relação de extrema confiança que lhe dava segurança e proteção.
Muitas mulheres sentem-se desapontadas
com seus companheiros, por acharem que não estão recebendo o apoio e carinho
esperados, como também, por senti-los indiferentes ao bebê. Cabe, aqui, uma
explicação fundamental. Por ser a mulher a fonte geradora, o vínculo entre ela
e o bebê vai se estabelecendo com o decorrer da gestação, o que não acontece
com o pai que, nesse período, percebe-se como mero espectador, muitas vezes até
se esquecendo que também colaboraram para que a concepção ocorresse.
Dessa
maneira, o vínculo entre pai e bebê forma-se de maneira mais lenta, também
porque de início, o filho é percebido como um grande rival, pois mobiliza todas
as atenções e cuidados de sua companheira. Assim, muitos pais estarão se
sentindo abandonados e necessitados de apoio e conforto, pois também se
encontram angustiados e atemorizados quanto ao presente e futuro e se
perguntando se serão capazes de prover e proteger a nova família. Muitos também
apresentam dificuldade em reassumir a vida sexual ativa com medo de machucar a
mulher ou por perceber o quanto se sente cansada e confusa com as novas
responsabilidades, ou mesmo por estarem com ciúmes e inveja da íntima relação
mãe-bebê, principalmente no momento da amamentação, quando se sentem excluídos
da relação.
Decididamente, o pós-parto é um período
muito delicado, porém riquíssimo em aprendizagens. Pais
e filhos estarão exercendo a capacidade de se conhecer e de se reconhecer como
família. Para tanto, faz-se necessário o principal aprendizado que é o sentido
de doação, ou seja, que os pais doem a seu filho um lugar físico e psicológico,
que antes era só deles, para que se sinta pertencente e acolhido emocionalmente
pela própria família que o concebeu.
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